Eliminada, Bayan Jumah vive em Aleppo, epicentro de guerra civil
LEANDRO COLON
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES
A estudante Bayan Jumah, de 18 anos, acordou cedo ontem em Londres e pouco antes das 10h foi para o Centro de Esportes Aquáticos do Parque Olímpico. Com um maiô azul e touca branca, posicionou-se na raia 5 e, em 59s78, percorreu os 100 m livre.
Ficou apenas na 40ª colocação, saiu discretamente da piscina, sem despertar qualquer atenção do público, nem mesmo das adversárias.
Na hora em que a jovem competia, a cidade onde ela nasceu, Aleppo, na Síria, entrava no 12º dia de conflito armado entre rebeldes e o regime do ditador Bashar Assad.
E é para Aleppo que Bayan Jumah voltará agora, depois de competir em Londres. Vai trocar o mundo olímpico pelo clima de guerra civil da maior metrópole do país, onde também vive sua família.
Sem muita convicção e informação, a jovem tentou demonstrar alguma confiança no retorno para casa.
"Não há nada no centro da cidade, o problema é em volta", disse após a prova. Anteontem, pelo menos 22 pessoas morreram em Aleppo, segundo relato de ativistas.
A nadadora olímpica, considerada hoje a melhor do seu país, integra a delegação de dez atletas da Síria que chegou na semana passada em Londres para os Jogos de 2012 em meio à crise que atinge o país desde o ano passado.
Recentemente, a imprensa britânica noticiou que o chefe do Comitê Olímpico da Síria, Mowaffak Joumaa, tivera o visto recusado pela Grã-Bretanha por causa das suas relações com o ditador Assad.
O COI (Comitê Olímpico Internacional) tem acompanhado de perto os passos da equipe da Síria. Ontem, um funcionário da organização da entidade ficou em cima da entrevista que Bayan Jumah deu na zona mista do centro aquático após a competição.
Antes mesmo de pular na piscina em Londres, Bayan Jumah já foi avisada -e tranquilizada- de que o conflito armado ainda não teria chegado perto de sua família em Aleppo. "Estão todos bem."
A jovem, que treinou na França nos meses que antecederam os Jogos Olímpicos londrinos, escolheu não opinar sobre a situação política do seu país e preferiu adotar discurso protocolar.
"Eu não me preocupo com as questões políticas na Síria porque preciso me focar na natação e nos estudos."
"Estou aqui para representar meu país, e é um sonho para todo mundo participar de uma Olimpíada", afirmou.
A delegação da Síria tem circulado pouco pela Vila Olímpica, espaço onde ficam hospedados os atletas. Optou pela discrição nesses dias.
Além de Bayan Jumah, outros quatro atletas sírios já foram eliminados no ciclismo, natação, boxe e tiro. Os que ficaram também têm pouca ou quase nenhuma chance de medalha, normal para um país que, em 12 participações em Jogos, incluindo Londres, subiu só três vezes no pódio.
A delegação conta ainda com Ahmad Hamcho, do hipismo, estudante de 19 anos cuja família é declaradamente simpatizante do regime de Assad. Segundo o COI, ele é o mais jovem entre os competidores de sua modalidade.
Priscila Marques Pereira - Nº35
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