quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Refugiados estão presos pelo frio do inverno no Afeganistão


Refugiados estão presos pelo frio do inverno no Afeganistão



As seguintes crianças morreram congeladas em Cabul nas últimas três semanas, depois que suas famílias fugiram das zonas de guerra no Afeganistão para os campos de refugiados daqui:
 
Mirwais, filho de Hayatullah Haideri. Ele tinha um ano e meio de idade e tinha acabado de aprender a andar, se agarrando cambaleante à armação da tenda da família antes de cair nas lâminas congeladas do chão lamacento.




Essas crianças estão entre as pelo menos 22 que morreram no mês passado, uma época de forte frio incomum e tempestades de neve. As duas vítimas mais recentes morreram na quinta-feira.

As mortes, que as autoridades do governo buscaram suprimir ou minimizar, provocaram autoanálise entre os agentes de ajuda humanitária daqui.

Após 10 anos de grande presença internacional, totalizando cerca de 2.000 grupos de ajuda, pelo menos US$ 3,5 bilhões em ajuda humanitária e US$ 58 bilhões em assistência para desenvolvimento, como crianças podem morrer de algo tão previsível –e administrável– como o frio?

As mortes ocorreram em dois dos maiores campos, Charahi Qambar (oito mortes relacionadas ao frio) e Nasaji Bagrami (14 mortes). Ambos os campos são habitados principalmente por refugiados que fugiram do combate em áreas como a província de Helmand, no sul. Algumas pessoas estão nos campos há sete anos; outras chegaram ano passado.

“Há 35 mil pessoas nesses campos no meio de Cabul, sem calor ou eletricidade no meio do inverno; essa é uma crise humanitária”, disse Michael Keating, o coordenador humanitário da ONU no Afeganistão. “Eu acho que a história humanitária não é suficientemente entendida aqui. Realmente existem muitas pessoas que estão em apuros.”

Os campos não se qualificam para ajuda para desenvolvimento porque são vistos como instalações temporárias –e muitas autoridades afegãs são contrárias à presença delas. De modo prático, fornecer ajuda aos campos encorajaria as pessoas a permanecerem neles e talvez atrair ainda mais pessoas.

Por outro lado, como os campos estão em um estado de “emergência crônica”, a maioria dos doadores de ajuda, por sua vez, deixam de vê-la como uma crise humanitária.

“As pessoas pensam que você não pode mais chamar de emergência se está ocorrendo há 10 anos, mas é o que é”, disse Julie Bara, da Solidarites International, um grupo francês que mantém um programa limitado de ajuda alimentar de emergência e saneamento nos campos.

A organização dela fez um levantamento das taxas de mortalidade nos campos nos últimos meses. Entre as crianças com menos de 5 anos, disse Bara, a taxa de mortalidade nos campos é de 144 entre 1.000 crianças, uma taxa extremamente alta até mesmo para o Afeganistão, que já conta com a terceira mais alta taxa de mortalidade infantil do mundo. Isso significa que 1 entre 7 crianças nos campos de Cabul não sobreviverão até seu sexto aniversário.  Todas as 22 crianças que morreram tinham menos de 5 anos.

Normalmente, os invernos de Cabul são brandos para uma cidade em um país montanhoso, mas não neste ano. Este foi o janeiro mais frio em 20 anos, segundo Mohammad Aslam Fazaz, vice-diretor do escritório nacional de desastre. Na maioria das noites, a temperatura caiu abaixo de 6ºC negativos.

“Não há uma estratégia clara para ajudar essas pessoas”, disse Mohammad Yousef, diretor geral do Aschiana, um respeitado grupo de ajuda humanitária afegão que fornece educação e outros serviços em 13 dos campos. “Eles não têm acesso a nada –saúde, educação, alimento, saneamento, água. Eles não têm nem mesmo uma oportunidade de sobrevivência.”




Stefani Priscila  38 


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